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O dromedário por Primo Levi

O dromedário por Primo Levi

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Para quê tantas querelas, litígios e guerras?
Só tinham que me imitar.
Não há água? Eu passo sem nenhuma,
atento apenas a não desperdiçar o bafo.
Não há que comer? Tiro da minha bossa:
quando os tempos vos forem propícios
façam por que vos cresça uma a vocês também
e se a bossa está frouxa
basta-me um pouco de tojo e palha;
A erva verde é vaidade e luxo.
É feia a minha voz? Estou quase sempre calado
e se bramo ninguém me ouve.
Sou feio? Agrado à minha fêmea,
as nossas trabalham no duro,
e dão-nos o melhor leite que existe;
às vossas, peçam-lhes o mesmo.
Sim, sou um servo, mas o deserto é meu:
não há servo que não tenha o seu reino.
O meu reino é a desolação;
não tem confins.

in A uma hora incerta, Edições do Saguão, dezembro de 2024, tradução de Rui Miguel Ribeiro

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