Amo as gabardinas.
Gabardinas a passear num parque,
gabardinas num café.
Quando caminho pelo outono
embrulhado numa gabardina
sinto que pertenço
a um mundo extraordinário.
Um mundo de seres extraordinários
envoltos em gabardinas ordinárias.
Gabardinas, por vezes, gastas de tanto usadas,
outras vezes, rodeadas de solidão.
Mas gabardinas que são sempre
espírito da paisagem cinzenta
e luminosa que os seus utilizadores
atravessaram na vida.

Porque, e este é o grande segredo
de quem usa gabardinas no outono,
todas as gabardinas são vestígios
de um passado do qual não queremos
deixar definitivamente.

por Emilio Porta, tradução de PML