Todos somos peregrinos. Embora por vezes nos esqueçamos dessa condição. E abandonemos as sandálias e o burel. Mais cedo ou mais tarde temos de voltar à estrada. Em noites como esta – tão clara – quase se distinguem os vultos dos peregrinos. Outros que não nós prosseguem a sua marcha por entre as estrelas. A princípio, alguns ainda começam a contar os dias. Depois desistem, porque os dias se confundem com as estrelas – cada vez mais inumeráveis e luminosos… E no fim de cada jornada recolhem cuidadosamente o ouro acumulado nos seus pés.
Jorge Sousa Braga in Os pés luminosos, Centelha, 1987, página 50