De todas as obras as mais queridas
são para mim as usadas.
Os jarros de cobre com amolgaduras e as bordas achatadas
as facas e os garfos com os cabos
gastos de muitas mãos: formas tais
sempre me pareceram as mais nobres. Igualmente os ladrilhos em volta de velhas casas,
calcados de muitos pés, polidos,
por entre os quais crescem tufos de erva – isto
é que são obras felizes.
Entradas no uso de muitos
muitas vezes alteradas, melhoram a sua forma e fazem-se saborosas
porque muito saboreadas.
Até os fragmentos de esculturas
com suas mãos decepadas eu amo. Também eles
viveram para mim. Ainda que deixados cair, foram assim mesmo usados.
Ainda que derrubados, não estiveram alto demais.
Os edifícios meio arruinados
têm de novo o aspecto de ainda não acabados
planeados em grande: as suas belas proporções
deixam já adivinhar-se; mas ainda precisam
da nossa compreensão. Por outro lado
serviram já, estão mesmo já ultrapassados. Tudo isto
me faz feliz.
in Poemas e canções, Livraria Almedina, 1975, página 16, tradução de Paulo Quintela