Não sou italiano, tecnicamente falando,
contudo aqui estou eu apoiado num balcão de zinco em Florença
na manhã soalheira de um dia de semana,
o pé no varão em ferro roliço e polido
como os outros homens que,
diga-se, são oficial e completamente italianos.

São 8 e 40 e vão trabalhar,
uns em escritórios, outros a varrer ruas,
enquanto eu vou a um museu ou a uma igreja
ver pinturas, acender talvez uma vela num nicho.
Contudo aqui estamos todos nos nossos fatos e camisas de trabalho
integrando a irmandade do expresso,

ou, como se diz?, La fratellanza dell’espresso,
esvaziando as pequenas chávenas brancas
com um rápido floreio do pulso,
cada um saboreando a mesma doçura da vida,
se usarmos um pouco de açúcar, e o amargor
da sua brevidade, escolhamos açúcar ou não.

in A aranha irlandesa & outros poemas, tradução de Francisco José Craveiro de Carvalho, do lado esquerdo, setembro 2023, página 17