Aprendendo a mímica do lince podes
amar a morte. Uma aprendizagem exa
cta. Seguir o contorno pardo, pontiagudo,
das pequenas orelhas. Desenhar o sombre
ado dos olhos fixos. Na morte há
um perfil especial. Fulgurações que des
lizam no ritmo dos passos. Um andar
alongado de colina para colina. Não
temas o fim como os outros seres
vivos que amam a própria morte.
A sua silhueta articula-se com um o
bjecto artificial. Recorda os ângu
los com maior espessura do que
numa superfície de mármore. Mostra
o acetinado do pelo em chispas.
Um espelho para reproduzir as
mutações da vida. Aprender um desenho
mais profundo do que o do prateado
do vulto. O que nos fulmina é
belo como a última queda depois
de um salto livre entre as montanhas.
in Animal Animal, Assírio & Alvim, fevereiro 2005, página 112