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Elefantezinho Verde de Francisco Duarte Mangas

Elefantezinho Verde de Francisco Duarte Mangas

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NA escrita, acontecem coisas estranhas. O bico de uma caneta, ou por que não?, o cursor podem deparar, por exemplo, com um pequenino elefante verde, sobretudo quando as coisas correm mal, ou seja, não correm. Calma, senhores. Ler e escrever são actos fabulosos e é precisamente uma fábula da escrita que serve de ponto de partida a “Elefantezinho Verde”, um conto de Francisco Duarte Mangas, ilustrado por Darocha e publicado pela novíssima Elefante Editores.

“(…) O contador de histórias vê algo parecido com uma azeitona: toca-lhe duas vezes com o bico da caneta. A azeitona mexe-se! E, em gesto de defesa, levanta um braço. Não é um braço, mas uma tromba em tamanho reduzido. Uma azeitona, uma tromba, olhos e…” está estabelecido um pacto com o leitor: aqui impera a lógica da imaginação. É dentro dela que Francisco Duarte Mangas – um dos nomes mais seguros da novíssima ficção portuguesa, como o comprova “Geografia do Medo”, o seu último romance, editado pela Teorema -, por intermédio do seu elefantezinho verde, se propõe reescrever a fábula de La Fontaine em que um corvo e uma raposa disputam um queijo. “O que estás a ver, diz o elefantezinho, é um plágio com efeitos especiais: uma indigestão de palavras”. Nesta “indigestão”, a história fica de pernas para o ar (nada mau para efeitos especiais) e a raposa é enganada por um bando de corvos. “Que te sirva de lição: não subestimes a paciência dos fracos quando lutam unidos”.

Inevitável é pensar, ao longo destas poucas páginas, em Aquilino Ribeiro. Sem estoutro amante das fábulas, dificilmente Francisco Duarte Mangas ou José Riço Direitinho seriam bons cronistas de um imaginário rural. E isto não implica que os dois escritores o tenham lido; a influência por via indirecta, através de autores como Miguel Torga, Agustina ou o grande – e insuspeito – brasileiro Guimarães Rosa, é uma das prerrogativas dos autores canónicos. Há pouco espaço para duvidar de que Aquilino é um dos grandes escritores do século XX português; só que às lantejoulas académicas do cânone, prefere a discrição da Casa Grande de Romarigães.

O esforço do elefantezinho para contar uma história serve também de metáfora à editora do conto, sedeada em Espinho. Para já é pequena – da sua história constam mais três títulos: uma “Antologia Poética” do poeta espinhense Edgar Carneiro; “O Remédio É Naufragar – Manuel Laranjeira Despedindo-se”, de Antero Moreira; e “Palavras de Amor” (Antologia de Novos Poetas), resultado de uma experiência curiosíssima, já que reúne os poemas premiados em concursos várias escolas. Sejam bem apreciadas as editoras que vierem por mais autores e, claro, mais leitores do que a dúzia e meia do costume.

Por Nuno Rocha Morais publicado originalmente na revista HEI!

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