Voltarão as escuras andorinhas
no teu beiral a fazer ninho,
e outra vez com as asas na janela
a brincar chamarão.
Mas aquelas que o voo refreavam
a tua beleza e a minha alegria a contemplar,
aquelas que aprenderam nossos nomes…
essas… não voltarão!
Voltarão as frondosas madressilvas
do teu jardim os muros a trepar,
e outra vez à tarde ainda mais bonitas
as suas flores se abrirão.
Mas aquelas, salpicadas de orvalho
cujas gotas víamos estremecer
e cair como lágrimas do dia…
essas… não voltarão!
Voltarão do amor em teus ouvidos
as palavras ardentes a soar;
teu coração do sono profundo
talvez despertará.
Mas mudo e absorto e de joelhos
como se adora a Deus ante o altar,
como eu te quis…; desengana-te
assim… não te amarão!
in Rimas, Relógio de Água, 1994, página 116
tradução PML