2355
0
COMPARTILHAR
Inicio Rua da Estrada Rua da Estrad...

Rua da Estrada da civilização do granito

Rua da Estrada da civilização do granito

0
2355

QUANDO Orlando Ribeiro escrevia sobre a “civilização do granito no Norte de Portugal”[1], praticava magistralmente a tese da Geografia Regional clássica sobre a interacção entre o meio e o homem. Assim se denominava a teia intrincada de relações entre as características do meio geográfico natural – o clima, a geologia, o solo, o coberto vegetal…- e o lento evoluir das sociedades tradicionais no seu labor de aproveitar ao máximo essas condições naturais a seu favor. Por aí se esmiuçavam as identidades regionais, os sistemas de produção, as arquitecturas, o povoamento, as regularidades na produção de paisagem, enfim, a construção sócio-natural do território.

Dominava então a economia agrícola tradicional de base familiar praticamente confinada à auto-subsistência. Eram tempos de pré-modernidade em que havia o engenho e muitos braços mas falhava a potência da técnica, e as referências e práticas culturais enredavam-se nas suas inércias reproduzindo rotinas de séculos. A dureza das condições de vida fazia com que a escassez se gerisse até à partícula, que a ínfima coisa se aproveitasse, que se tirasse partido de tudo o que estava à mão, porque adquirir o que quer que fosse, materiais ou trabalho, era proibitivo para a maioria daqueles a quem o dinheiro escasseava.

O uso do granito, a pedra mais comum no Norte de Portugal, é muito esclarecedor a este respeito. Com ele se faziam os muros dos socalcos para produzir e manter solo artificial, se protegiam os pastos da montanha do passo dos animais, se faziam casas, túmulos e templos, pias para porcos ou galinhas, lagaretas para espremer vinho, mós, relógios de sol, empredrados de caminhos ou postes para a vinha. A rigidez da pedra contrastava com a versatilidade dos seus usos.

Agora, a modernidade radical que por aí vai em modo acelerado está a reformatar completamente o tema. No entanto, em vez daquilo que se pensava acerca de tudo que era sólido que ia derreter no ar[2] – e o granito também, claro -, o processo de modernização injectou na pedra tecnologia, negócio, industrialização, normalização, capitalismo, globalização e toda a artilharia pesada da tal experiência da modernidade sobre-excitada. Não só a pedra não se derreteu como prolifera como nunca: os mercados querem, o homem paga e a obra nasce.

Claro que este outro granito não é o da narrativa dos tempos e dos espaços da ruralidade profunda. Evolui e multiplica-se como no Porriño, a terra galega onde a velha Galiza se dissolveu por entre polígonos industriais imensos, auto-estradas, pedreiras gigantes: Adios, ríos; adios, fontes; / adios, regatos pequenos; / adios, vista dos meus ollos: / non sei cando nos veremos, como cantava Rosalía[3].

Essa modernização intensa pode aflorar de muitas maneiras encadeadas: ora nos processos sofisticados da tecnologia da extracção da pedra em bruto; no corte, polimento e acabamento, no transporte e, veja-se a seguir, na multiplicação ao infinito de módulos que dariam peças de um imenso puzzle que servem para construir uma casa-toda, uma paisagem-toda, dos muros dos aterros, ao mobiliário, do piso da sala ao lajeado do estradas. Pedra nobre, viva a república.

Geografia e civilização outra vez, transportamos para qualquer lugar no duden en contactar y pedir presupuesto sin compromiso. Gracias

abujardados
adoquín
albardillas
antepechos
balaustres
balconeras
balcones
bancos
barbacoas
bloques
bordillos
bustos
buzones
columnas
cachotes
capiteles moldurados
casas
chimeneas
churrasqueros,
cierres
cornisa
cortados
cruceiros
entradas,
estanques
escaleras
escolleras
escudos heráldicos
esculturas
esquinales
estantes
fachadas
flameados
figuras
fogones
fuentes
hórreos
leones
mesas
muros de manpostería
pavimentos
perpiaño
peldaños
planchones
plaquetas pulidas
pozos
palomares
pisos de pidera
pias
pérgolas
piedra para chapear
piletas,
pedestales
platôs de ducha
perpiaño tosco
perpiaño
peldaños
porches
postes
pavimentos
plaquetas
pasamanos
recercados,
relojes de sol
rústicos
suelos,
semibloques
planchones,
vierteaguas
granito rosa Porriño
granito gris Mondariz
granito silvestre do país
piedra morena
granitos rústicos,
granitos rachados,
piedra pulida
piedra cortada

Foto: Álvaro Domingues
Foto: Álvaro Domingues

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

[1] Orlando Ribeiro (1961), Geografia e Civilização. Temas portugueses, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, Col. Chorographia (2.ª edição, Lisboa, Livros Horizonte, 1979)
[2] Marshall Berman (1978), All That Is Solid Melts Into Air – the experience of modenity, American Review, 19 (Penguin Books, 1982)
[3] Rosalía de Castro (1863), Cantares Gallegos, ed. Patronato Rosalía de Castro, Vigo, 1976.

Partilha

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here