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Rua da Estrada da civilização do granito

Rua da Estrada da civilização do granito

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QUANDO Orlando Ribeiro escrevia sobre a “civilização do granito no Norte de Portugal”[1], praticava magistralmente a tese da Geografia Regional clássica sobre a interacção entre o meio e o homem. Assim se denominava a teia intrincada de relações entre as características do meio geográfico natural – o clima, a geologia, o solo, o coberto vegetal…- e o lento evoluir das sociedades tradicionais no seu labor de aproveitar ao máximo essas condições naturais a seu favor. Por aí se esmiuçavam as identidades regionais, os sistemas de produção, as arquitecturas, o povoamento, as regularidades na produção de paisagem, enfim, a construção sócio-natural do território.

Dominava então a economia agrícola tradicional de base familiar praticamente confinada à auto-subsistência. Eram tempos de pré-modernidade em que havia o engenho e muitos braços mas falhava a potência da técnica, e as referências e práticas culturais enredavam-se nas suas inércias reproduzindo rotinas de séculos. A dureza das condições de vida fazia com que a escassez se gerisse até à partícula, que a ínfima coisa se aproveitasse, que se tirasse partido de tudo o que estava à mão, porque adquirir o que quer que fosse, materiais ou trabalho, era proibitivo para a maioria daqueles a quem o dinheiro escasseava.

O uso do granito, a pedra mais comum no Norte de Portugal, é muito esclarecedor a este respeito. Com ele se faziam os muros dos socalcos para produzir e manter solo artificial, se protegiam os pastos da montanha do passo dos animais, se faziam casas, túmulos e templos, pias para porcos ou galinhas, lagaretas para espremer vinho, mós, relógios de sol, empredrados de caminhos ou postes para a vinha. A rigidez da pedra contrastava com a versatilidade dos seus usos.

Agora, a modernidade radical que por aí vai em modo acelerado está a reformatar completamente o tema. No entanto, em vez daquilo que se pensava acerca de tudo que era sólido que ia derreter no ar[2] – e o granito também, claro -, o processo de modernização injectou na pedra tecnologia, negócio, industrialização, normalização, capitalismo, globalização e toda a artilharia pesada da tal experiência da modernidade sobre-excitada. Não só a pedra não se derreteu como prolifera como nunca: os mercados querem, o homem paga e a obra nasce.

Claro que este outro granito não é o da narrativa dos tempos e dos espaços da ruralidade profunda. Evolui e multiplica-se como no Porriño, a terra galega onde a velha Galiza se dissolveu por entre polígonos industriais imensos, auto-estradas, pedreiras gigantes: Adios, ríos; adios, fontes; / adios, regatos pequenos; / adios, vista dos meus ollos: / non sei cando nos veremos, como cantava Rosalía[3].

Essa modernização intensa pode aflorar de muitas maneiras encadeadas: ora nos processos sofisticados da tecnologia da extracção da pedra em bruto; no corte, polimento e acabamento, no transporte e, veja-se a seguir, na multiplicação ao infinito de módulos que dariam peças de um imenso puzzle que servem para construir uma casa-toda, uma paisagem-toda, dos muros dos aterros, ao mobiliário, do piso da sala ao lajeado do estradas. Pedra nobre, viva a república.

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Foto: Álvaro Domingues
Foto: Álvaro Domingues

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

[1] Orlando Ribeiro (1961), Geografia e Civilização. Temas portugueses, Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, Col. Chorographia (2.ª edição, Lisboa, Livros Horizonte, 1979)
[2] Marshall Berman (1978), All That Is Solid Melts Into Air – the experience of modenity, American Review, 19 (Penguin Books, 1982)
[3] Rosalía de Castro (1863), Cantares Gallegos, ed. Patronato Rosalía de Castro, Vigo, 1976.

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