Morre a luz, abafa os ares
horrendo, espesso negrume,
apenas surge do Averno
a negra fúria Ciúme.
Sobre um sólio cor da noite
jaz dos Infernos o Nurne,
e a seus pés tragando brasas
a negra fúria Ciúme.
Crespas víboras penteia,
dos olhos dardeja lume,
respira veneno e peste
a negra fúria Ciúme.
Arrancando à Morte a fouce
de buído, ervado gume,
vem retalhar corações
a negra fúria Ciúme.
Ao cruel sócio de Amor
escapar ninguém presume,
porque a tudo as garras lança
a negra fúria Ciúme.
Todos os males do Inferno
em si guarda, em si resume
o mais horrível dos monstros,
a negra fúria Ciúme.
Amor inda é mais suave,
que das rosas o perfume,
mas envenena-lhe as graças
a negra fúria Ciúme.
Nas asas de Amor voamos
do prazer ao áureo cume,
porém de lá nos arroja
a negra fúria Ciúme.
Do férreo cálix da Morte
prova o funesto azedume
aquele a quem ferve n’alma
a negra fúria Ciúme.
Do escuro seio dos fados
saltam males em cardume:
o pior é o que eu sofro,
a negra fúria Ciúme.
Dos imutáveis destinos
se lê no idoso volume
quantos estragos tem feito
a negra fúria Ciúme.
Amor inda brilha menos
do que sutil vagalume,
por entre as sombras que espalha
a negra fúria Ciúme.