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Manuel Francisco Costa, 37 anos

Manuel Francisco Costa, 37 anos

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A PESSOA nº 50 do “novo” noticias.up.pt não se destacou por nenhum motivo em especial… Não ganhou prémios nem fez descobertas inovadoras. Não promoveu iniciativas inéditas nem tão pouco foi nomeado para um reputado cargo internacional. Manuel Francisco Costa é ele próprio especial. Pelo exemplo de vida que representa; por riscar as palavras “nunca” e “impossível” do dicionário apesar de conviver diariamente com uma paralisia cerebral que o remete para uma cadeira de rodas; e pela perseverança e paixão pela vida que, entre outras coisas, já o conduziram à sua cadeira de sonho e constituem um exemplo dentro da comunidade da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP), onde trabalha desde 2001 como designer gráfico. Mas recuemos no tempo…

“14 de Julho de 1976, um jovem casal que, ao ver nascer o seu primeiro filho, depara-se com uma situação difícil: Ter um filho diferente”. Assim começa a história de Manuel. Mas esta não é uma história qualquer. Naquele dia, “uma guerra tinha inevitavelmente de começar, sabendo que batalhas como o preconceito, os obstáculos e barreiras tinham que ser vencidas”. É assim que cresce “como qualquer criança normal”, encorajado pela família e especialmente por D. Margarida, a mãe, ” a culpada do facto de não viver sentado no sofá a ver novelas e ‘praças da alegria’, porque aos 7 anos obrigou-me a ir à escola!” Ali, aprende rapidamente uma lição: “Ser diferente apenas significa ter de lutar com diferentes armas…”.  Também por isso, ao “olhar de compaixão que sempre me acompanhou desde a primeira vez que era inserido num meio diferente” responde de modo a que “depressa se apercebam que a fala era a mesma, que ria e chorava pelos mesmos motivos, que aprendia da mesma forma, enfim, que o desigual na aparência, com o convívio se tornava num igual ainda mais acarinhado pelos outros.”

Segue-se o ensino preparatório e nova “batalha” para vencer. “O incrível é que eu me safava. Tirava boas notas, brincava, jogava a bola”, lembra. Exemplo. “Sempre rejeitei ser dispensado das aulas de Educação Física. Partia dedos na baliza, mas não importava, naqueles minutos sentia-me um Vítor Baía em cadeira de rodas!”, recorda. As vitórias, essas, não pararam de chegar nos anos que se seguiram. “Eu queria mesmo continuar, não tinha nada a perder e tinha orgulho em mim próprio e em ser um dos melhores”. Até terminar o secundário, cruza-se ainda com os computadores, dos quais nunca se viria a desligar, mas o primeiro legado que deixa é outro:  ”Em 12 anos de ensino público, nunca senti qualquer tipo de descriminação ou gozo por parte de algum colega, professor ou funcionário!

Concluído o 12.º ano e com média para ingressar no ensino superior, surgem as primeiras dúvidas no percurso de Manuel. “Universidade? Não quis! Não tive coragem de arriscar”, assume. A alternativa passou por um curso de Design Gráfico e Multimédia no Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, que completa entre 1996 e 2000. “Ganhei o gosto pela profissão, demonstrei criatividade e persegui o sonho utópico de ter um emprego”. Seguem-se “meses difíceis, tendo somente o computador para não perder a prática e não cair no tédio”, mas “qualquer sonho é possível, desde que acreditemos cheios de esperança e convicção”, diz para si próprio. Em 2001, a recompensa vem na forma de uma oportunidade de estágio na FPCEUP que a família – “chave do sucesso” – não deixou desperdiçar. Um ano depois, era funcionário do tal “lugar utópico”. E com ele “calaram-se aqueles e aquelas que não apostaram em mim, rendendo-se às evidências de um portador duma deficiência avaliada em 95%!”

Hoje, Manuel diz “viver para o trabalho”, integrado “numa faculdade em que a horrenda palavra PRECONCEITO não passou da porta de entrada”. Apoiado pela mãe e pela irmã, “tenho o meu próprio modo de vida, adoro as novas tecnologias e elas ajudam-me a viver o dia-a-dia com um pouco de felicidade. Sei que nunca vou alcançar coisas banais para muitos homens, como conduzir um carro, ter uma namorada, sair à noite, mas consegui ganhar o desafio de uma vida, o da minha. O meu aspecto físico, a minha cadeira de rodas elétrica, os inúmeros preconceitos da sociedade, as barreiras arquitetónicas deste país não se conseguiram sobrepor à minha força de vontade, ao meu gosto pela vida, ao prazer de trabalhar, à euforia de ver o Porto Campeão, ao meu orgulho, às minhas ambições, enfim, aos meus sonhos”. Qual será a próxima batalha? “Sei que tenho capacidade para conseguir ainda mais e ambiciono um dia chegar a uma carreira especial na minha área”, atira. Até lá, diz, “é uma grande honra servir uma das melhores universidades do mundo!

Naturalidade?

Matosinhos.

Idade?

37 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das pessoas, dos(as) colegas e do companheirismo que encontro diariamente. Dos desafios que me colocam e confiança no meu profissionalismo. Sobretudo, é uma Universidade que valoriza quem trabalha. Saberes e projetos que nos vão valorizando em tempos difíceis mas também de grande esperança para todos(as) aqueles(as) que pertencem à comunidade U.Porto.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Do individualismo algo notório entre Unidades Orgânicas e da insuficiente aposta na qualificação do pessoal não docente. A desmotivação de ainda precisar do auxílio da minha mãe para vir trabalhar. A falta de auxiliares para dar apoio a funcionários com necessidades especiais. As inexistentes oportunidades de progressão na carreira.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Uma ideia bem atual e, em meu entender, de saudar: o CRSCUP (Centro de Recursos e Serviços Comuns da U.Porto). Serviços comuns permitirão uma melhor qualidade de trabalho para todas as UO’s.

– Como prefere passar os tempos livres?

Escrever poesia, ver filmes e viver o FC Porto.

– Um livro preferido?

“O Perfume”, de Patrick Süskind.

– Um disco/músico preferido?

“Tempo”, de Pedro Abrunhosa.

– Um prato preferido?

Tripas à moda do Porto.

– Um filme preferido?

“My Left Foot”.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Adoraria ir a Viena.

– Um objetivo de vida?

Um curso superior de Belas Artes ou Psicologia.

– Uma inspiração?

O Futebol Clube do Porto.

– Uma ideia para fortalecer a inclusão das pessoas com necessidades especiais na Universidade e na comunidade académica?

Propinas reduzidas devido aos fracos recursos financeiros da generalidade das pessoas com necessidades especiais. Aposta em pessoal qualificado para dar apoio ao nível da higiene e alimentação, tanto para estudantes como para funcionários. Uma rede de transportes adaptados. Três ideias numa.

Por Tiago Reis in http://noticias.up.pt/

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