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Rua da Estrada da Tecnologia Móvel

Rua da Estrada da Tecnologia Móvel

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MÓVEIS são as tecnologias usadas para comunicação entre unidades celulares móveis, como os telemóveis. Antes usava-se o telemóvel apenas para comunicar com outro telemóvel; em 1973 o primeiro desses dispositivos pesava mais de um quilograma, espécie de tijolo com antena. De repente o cenário transformou-se e a tecnologia evoluiu para a computação móvel suportada pela acessibilidade sem fios à internet em banda larga. Androides, iphones e outra fauna electrónica inteligente parecem um imenso enxame móvel capaz de comunicar entre si, com as nuvens, partilhando aplicações, sistemas operativos e capacidade de processamento de dados, voz, imagens e quem sabe estados de alma (electrónica, claro). Além disso, esses dispositivos multi-tarefa, capazes de operar com várias redes, equipados com câmaras vídeo, sistemas áudio, infra-vermelhos, raios X e tudo o que imaginarem incluindo o que não existe, podem captar, processar e distribuir/partilhar informação de todo o tipo de sensores/emissores de dados, códigos de barras Quick Response, redes locais, dente azul, gente aos gritos e sinais de fumo.

Para além dos humanos, ligando objectos e animais na internet das coisas, podemos imaginar complexas redes de sensores transmitindo informação sobre as mais diversas ocorrências: tensão na rede eléctrica; fluxo na rede de água ou esgoto; uma manada de vacas a enviar dados biométricos; uma esquadra de olhos electrónicos a enviar imagens e padrões de imagens já processados; outro a enviar dados sobre o nível de secura nos vasos das plantas lá de casa; um bando de pombos com anilha electrónica a enviar dados sobre a presença de um dado gás na atmosfera; os clientes de uma clínica a enviarem em modo automático valores de glicémia sempre que urinam nuns penicos electrónicos; uns desgraçados que ganham a vida passeando dispositivos de registo automático de dados em locais ou circuitos definidos…,  e preferiria não pensar em muito mais porque isto é um caso onde o todo não é pensável; só partes pequenas e muito devagar.

Todo este fluxo de informação, tanto pode dirigir-se a una única organização (coisa que pode redundar num pesadelo big brother, como se todos estivéssemos num panóptico controlado por alguém), como, numa versão mais democrática, pode estar em código aberto, transparente, podendo ser consultável por quem quiser à medida que o alcance da rede sem fios em banda larga se vai tornando ubíqua. Entre uma coisa e outra estão os geeks, seres dos ecossistemas informáticos possuidores de doses equivalentes de competência técnica e delírio, confundindo facilmente a realidade com um jogo de vídeo, uma banda desenhada ou filme de ficção científica.

É a realidade aumentada. Como se a realidade que há já não fosse suficientemente atordoadora e por vezes paralisante, temos agora esta que ainda por cima está em constante expansão. É muita realidade de uma vez só.

Por isso o edifício da tecnologia móvel não pode ficar tão enganadoramente transparente parecendo vazio, generosamente exposto à invisibilidade de todos. Essa transparência é um logro, confunde-se com os fantasmas que metem medo por não se saber onde andam e o que fazem. Quando se trata de recolher e processar quantidades infinitas de informação, controlar redes, sistemas, instituições e espaços públicos, interferir directamente no modo como nos relacionamos, convém que a tecnologia móvel não seja o brinquedo de um qualquer aprendiz de feiticeiro ou monopólio oculto de uma organização, mas uma coisa acessível a todos e de que todos posam tirar partido – partilhar, como se diz no livro das faces.

Por Álvaro Domingues autor de A Rua da Estrada.

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