QUANDO nos idos dos finais dos 60, Rogério Martins, o Secretário de Estado da Indústria, lança o Pólo de Desenvolvimento de Sines, era o tempo das certezas, das magias tecnológicas e da industrialização a fundo. Tinha começado a guerra em Angola. O Complexo de Sines, qual antibiótico de largo espectro, iria puxar pelo país, pelas colónias e pelo Alentejo, ensarilhando tudo numa novela onde entrava a construção de um porto de águas profundas, petróleo de Angola para refinar, pirites do Alentejo, trasfegas de grandes para pequenos petroleiros, indústria química, de automóveis, adubos, produção de energia e outras indústrias de base – era assim o nome – que teriam a capacidade para inseminar outras e por aí fora sem parar, incluindo uma cidade nova, um país novo, tudo novo como quem inventa o futuro moderno e radiante a partir da tábua rasa.

Estava tudo no Plano Intercalar de Fomento (1964-75), iria haver um super-gabinete a todo o GAS para coordenar toda a obra, haveria dinheiro e interesses dos grupos industriais do costume, os de cá de casa e outros que espreitavam de fora. O Estado, ditadura apesar do outro ter caído da cadeira, trataria de tudo. Veio a crise de 73 e foi-se o milagre dos petróleos, veio uma revolução e houve que refinar outras coisas, veio uma tempestade no Inverno de 1978/9 e deu cabo do molhe do porto, veio a desregulação global e a economia não obedece ao Estado, vieram uns projectos megalómanos e foi-se um TGV e veio um terminal e uma super-plataforma logística, vieram os chineses e foram-se embora, vieram os grandes armadores, vieram os de Singapura, veio a troika, muitos contentores e assim sucessivamente.

Ponha-se uma coroa de flores num poste e aguardemos melhores dias. Já não se pode planear nada.

Álvaro Domingues (Melgaço, 1959) é geógrafo e professor na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, onde também é investigador no CEAU-Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo. É autor de A Rua da EstradaVida no Campo e Volta a Portugal. Colabora com o Correio do Porto desde janeiro de 2015.

Publicado originalmente em 24 de setembro de 2015

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