313
0
COMPARTILHAR
Inicio Do Porto Decantações d...

Decantações de Adelino Ínsua

Decantações de Adelino Ínsua

0
313

Versos do universo do livro Decantações, Edição Húmus, dezembro de 2020

Adelino Ínsua nasceu no Porto, em 1956. Vive em Guimarães.

As montanhas são as ondas mais lentas que conheço.

O voo das andorinhas era desenhado pelos circunstanciais insectos, inumeráveis horizontes.

Ouvia, apenas o estalar das bagas de giesta, na canícula da tarde.

A fonte conhecerá os amigos pela sede.

Na casa da aldeia, em vez de papel de parede, um padrão de centopeias.

Comi muito bicho-da-fruta roubada à noite.

Andorinhas, são elas o vento que amo.

Querido aluvião, que é a chuva senão folhinhas e florinhas do mar.

Meu avô abria a levada e eu sentia o beijo da água.
Mais tarde seria o título de meu primeiro livro:
“A primeira viagem dos rios!. Brinquei com um rio,
que brinquedo desmesurado e tão apropriado!

O rio tinha alguns pequenos açudes que eram afinal murmúrios.

Há flores que pedem que te curves.

A papoila só aguenta o toque do teu olhar.

Oiço melhor as palavras sussurradas; vêm da pele dos gestos.

E a poesia tem uma missão nobre, mas quase impossível: trazer o que se vê nas ruínas desertas para os lugares habitados.

Um dia vi um poeta subir a uma árvore e aí escrever o poema, não estava a mais na paisagem.

Passou o comboio de mercadorias e o melro retoma o seu canto.

Tomava para mim as tardes silenciosas dos sábados,
o meu verdadeiro nome era aquele tom único,
com que minha mãe me chama.

No centro do teatro de Epidauro, não pude deixar de ouvir
a tragédia das cigarras.

A figueira de Micenas, este ano, não tem figos.
Apenas me concedeu a sombra.

Em Euskadi, correm em vales apertados, rios de fábricas.

Partilha
COMPARTILHAR
Artigo anteriorCanto à cal
Próximo artigoLaranja

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here