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Uma história de amor em Atami

Uma história de amor em Atami

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UMA vez por ano, a família de minha esposa ― que reside em diversas localidades do Japão, a saber: Quioto, Osaka e Saitama ― reúne-se para uma viagem de dois dias, com destino a um dos muitos pontos turísticos que o arquipélago possui. Em 2018, a cidade escolhida foi Atami. Uma ótima escolha, aliás; visto que essa pequena cidade litorânea, localizada na Prefeitura de Shizuoka, é repleta de termas (onsens) e praias: ideal, portanto, para quem, como eu, adora paisagens marítimas.

E foi justamente para apreciarmos o mar de Atami que minha esposa e eu decidimos não tomar um táxi até o hotel. De modo que, durante quase meia hora, fomos caminhando pelo “calçadão” próximo à praia. Em um determinado ponto do trajeto, vimos que alguns turistas reuniam-se em frente a um monumento, que reproduzia a cena de um estudante fardado “chutando” uma mulher que, no chão, tentava proteger-se do golpe. Foi então que me aproximei da placa que, tanto em japonês quanto em inglês, esclarecia aos mais chocados que aquela inaceitável cena de violência contra a mulher era, na verdade, a representação de uma das mais conhecidas histórias românticas da Literatura Japonesa: a do amor impossível entre Omiya e o estudante universitário Kan-ichi ―que, noivos (compromisso este assumido secretamente), são forçados a separar-se pela seguinte razão: os pais de Omiya, sem recursos financeiros, oferecem-na a um homem rico; o qual, para selar o pacto, presenteia a moça com um diamante. Ela, por sua vez, temendo confessar seu amor pelo jovem Kan-ichi ― pois uma recusa também significaria a “desgraça social” de sua família, da qual, humilhado, o rico pretendente poderia vingar-se ―, aceita o diamante, e, com este, a proposta de casamento. Ao saber disso, Kan-ichi encontra-se com Omiya, próximo a um pinheiro, e, desferindo-lhe o famoso golpe, grita que ela “havia ficado cega por um diamante”.

Em 1897, essa trágica história de amor foi publicada, pela primeira vez, em forma de folhetim, pelo escritor Ozaki Kōyō (1868-1903), na revista Hakubunkan e sob o título de “Konjiki Yasha” (“A usurária”). Posteriormente, em 1954, uma adaptação foi realizada para o cinema, agora sob o título de “The Golden Demon” (“O demônio dourado”), em referência ao diamante. Eu, particularmente, gosto muito do título da versão cinematográfica, mais impactante e menos preconceituoso em relação ao papel feminino no enredo. Mas, claro, uma boa história sempre abre um leque de possibilidades para o título ideal.

E foi pensando em possíveis títulos à obra de Kōyō que segui apreciando, até o hotel, o pequeno ― e nada diabólico ― diamante chamado Atami. Enquanto que, de mãos dadas com minha esposa, continuava a escrever mais uma história de amor no Japão.

SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017.

Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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