É AGOSTO, e o verão chegou ao Japão literalmente abrasador. E falo isso tendo nascido no “Inferno Verde” (leia-se “Amazônia”): o que pode dar a falsa impressão de que meu corpo é mais resistente a altas temperaturas ― algo como a versão cabocla do “Tocha Humana” dos quadrinhos, digamos assim. Mas, creiam-me, este amazonense também “torra” no verão japonês. Para ser sincero, só estou conseguindo escrever esta crônica em uma tarde de domingo porque o ar-condicionado e um garrafão de água não permitiram ainda que eu desmaiasse.

E lá fora, então, usando a máscara?… (sufoco-me só de imaginar a próxima saída). Claro, respeitando as recomendações das autoridades de saúde, saio sempre às ruas devidamente mascarado (em todos os sentidos): o que significa, no caso da máscara cirúrgica, também experimentar momentos de agonia. Sim, porque, apesar de imprescindível nestes tempos de pandemia, também há de admitir-se que não é um dos acessórios mais confortáveis no calor do verão. Ainda assim, repito, o uso da máscara é imprescindível. Sendo assim, o jeito é encontrarmos soluções que aliviem o calvário dos mascarados sob um sol escaldante. E, em termos de soluções curiosas, vale dizer, os japoneses dão um show à parte. A mais recente moda? Miniventiladores portáteis.

É isso mesmo, caros leitores. Vi ontem, pela primeira vez, no trem, quando ia a Yokohama: muitos dos passageiros com um “ventiladorzinho” na mão para aliviar o calor. E observem que falo de um país historicamente acostumado a usar leques e abanadores. Mas miniventilador portátil é a primeira vez que vejo, confesso, sendo usado por tantas pessoas nas ruas. Sobre o tema, aliás, minha esposa disse-me, carinhosamente, que eu estava “por fora” (ou algo semelhante em Japonês): pois há até mesmo miniventiladores implantados em calças, jaquetas e camisas ― o chamado air-conditioned clothing (em uma tradução aproximada, “roupas ventiladas”). E ela completou a informação dizendo que esses acessórios facilitam e muito a vida de quem tem de trabalhar nas ruas (caso dos trabalhadores da construção civil) durante o verão.

Invenções estas que, sou da opinião, mereceriam mesmo um Nobel qualquer: ainda mais em nossa realidade sufocante de pandemia. Porque sempre é bem-vinda qualquer ideia ou ação que alivie o sofrimento do povo ― seja qual for a estação do ano. Fiquei imaginando, por exemplo, como esses miniventiladores poderiam refrescar o dia de meus familiares e amigos no Brasil, há tanto tempo asfixiados por inúmeros males: o vírus, agora; mas também o desemprego, a exploração, as injustiças… Enfim, como seria bom que um vento refrescante ― como o produzido por esses miniventiladores japoneses ― pudesse amenizar o sofrimento de meus compatriotas.

Ah, que bom seria ver o Brasil livre da asfixia: e sorrindo novamente! E peço mais além: que os bons ventos ― de saúde, paz e alegrias ― possam espalhar-se pelo mundo inteiro, já tão castigado, ajudando-o a respirar melhor. É pedir muito, 2020?

EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018), “Gotas frias de suor” (2018) e “Centelhas” (romance, 2019).  É também colunista do “Jornal em Dia” (Brasil).

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