Inês Lourenço
Não precisa de respiração assistida / para o ar lhe circular entre os vocábulos. Nem / jaz inerte e horizontal numa febre letárgica / que lhe impõe caminhos
Papiniano Carlos (1918-2012)
O Sol / brilhava agora / cheio de alegria / e sacudia / a luz / da sua imensa cabeleira / sobre o mundo.
João Manuel Ribeiro (1968)
Outro e outro e outro / não se cansam os relâmpagos / de beijar a montanha
Alexandra Malheiro (1972)
Tantas vezes que me apetece / matar as palavras ou / ficar quieta num canto à espera / que elas me matem.
Francisco Duarte Mangas (1960)
que procuro no maio reescrito / cerejas, manhã de ervas / húmidas pelos rios de basto
Domingos da Mota (1946)
Era Dezembro. O natal esperado / (não havia então ecografia), / poderia ser de um rapaz / ou de uma rapariga
Luís Veiga Leitão (1912-1987)
Natal é uma voz circular / calor de um ovo na palha dos ninhos / e música de flautas habitando / a solidão dos caminhos
Almeida Garrett (1799-1854)
É lei do tempo, Senhora, / Que ninguém domine agora / E todos queiram reinar.
Aurelino Costa (1956)
Vêm de um canto da sala, / as vozes e eu / vejo-as salubres sombras / nos altares / enquanto um caracol / nas paredes corre
José Régio (1901-1969)
Mais uma vez, cá vimos / Festejar o teu novo nascimento, / Nós, que, parece, nos desiludimos / Do teu advento!
Manuel Araújo da Cunha (1947)
Presos nas amarras / inventamos horizontes / Quem me leva / ao corpo do rio / e a morrer dentro dele
Jorge Gomes Miranda (1965)
Se outras preferiam os tecidos de seda / do desejo / ela dava-se à ganga coçada / do amor / depois de noites mal dormidas.