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Maria Neto, 29 anos

Maria Neto, 29 anos

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EM 2009, quando terminou o Mestrado Integrado em Arquitectura, já Maria Neto, investigadora do Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (CEAU-FAUP), contava no currículo com um estágio em Porto Alegre, no Brasil, num projeto para a favela de Santa Teresinha (premiado com dois prémios de mérito académico) e com uma passagem, para fins de pesquisa, pela equipa da Proteção Civil italiana responsável pela organização e gestão dos campos de realojados, após o terramoto que afetou a região de Abruzzo e que deu origem a uma patente – Sustainable and inflated emergency shelter – premiada em 2011 pela ValorPneu.

Não é por isso de estranhar que, aos 29 anos, Maria Neto tenha escolhido o maior complexo de refugiados do mundo para desenvolver ‘As cidades invisíveis de Dadaab’, proposta que lhe valeu a vitória na 11.ª edição do Prémio Fernando Távora, uma bolsa de viagem atribuída anualmente pela Ordem dos Arquitectos em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos e com a Casa da Arquitectura.

Arquiteta, voluntária da Cruz Vermelha Portuguesa e com formação profissional em Humanitarian Shelter Coordination pela IFRC/UNHCR/Brookes University, integra o projeto editorial SCOPIO desempenhando as funções de Assistente Editorial, a Investigadora do CEAU-FAUP desenvolve atualmente o projeto de doutoramento ‘Territórios indefinidos no dilema da acção humanitária. Posicionamento crítico do arquitecto na delineação de estratégias de Abrigo e Planeamento de Emergência’ como bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) em Madrid.

Com vários prémios e artigos publicados, colabora, voluntariamente, com diversas entidades, em especial com a Cruz Vermelha, no campo do abrigo e planeamento de emergência, e processos participativos. Apoiou na tradução e Proofreading do manual PASSA (Participatory approaches for safe shelter awareness) a implementar com as comunidades em Moçambique.

Considera que os campos de refugiados são “territórios que se comportam como ‘cidades invisíveis’ insustentáveis” e que a “Arquitetura pode e deve contribuir para apoiar a prática da ação humanitária, explorando estes territórios indefinidos, como um laboratório privilegiado para (re)pensar novas formas de habitar, potenciando a sua autonomia e desenvolvimento sustentável, a médio e longo prazos”.

Naturalidade?

Mirandela.

Idade?

29 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Dos edifícios e da sua história.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da burocracia generalizada.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Facilitar as relações entre departamentos articulando projectos desenvolvidos por diferentes unidades de investigação.

– Como prefere passar os tempos livres?

Se possível a viajar, em família ou em voluntariado.

– Um livro preferido?

Para sempre de Vergílio Ferreira.

– Um disco/músico preferido?

Kind of Blue, de Mile Davis.

– Um prato preferido?

Caril de Frango.

– Um filme preferido?

12 Angry Men.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Viagem a África através do Prémio Fernando Távora.

– Um objetivo de vida?

Trabalhar para as Nações Unidas.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

Jean Henry Dunant.

– O projeto da sua vida?

Contribuir por um lado, para o debate alargado deste problema dentro das escolas de Arquitectura, criando novos discursos e linhas de investigação orientadas para a “Arquitectura e Planeamento de Emergência” e, por outro lado, apoiar a prática da ação humanitária, contribuindo para melhorar as condições de vida de milhares de refugiados e deslocados no mundo.

– Como pode a arquitetura contribuir para ajudar os refugiados?

O problema que emerge do deslocamento em massa, seja este resultado de uma catástrofe natural ou conflito, depende necessariamente de uma solução política, efectiva e coordenada, porque a solução para problemas humanitários não se resolve apenas com respostas humanitárias. Este facto, porém, não invalida a necessidade de disciplinas como a Arquitetura e o Urbanismo, contribuírem com todo o seu conhecimento sobre o abrigo e a cidade para a melhoria das condições de vida de milhões de deslocados e refugiados.

É aqui que reside a tónica do problema: no reconhecimento de que a maioria dos refugiados e deslocados do mundo, estão nas chamadas situações prolongadas (6 a 17 anos), onde permanecem em campos por tempo indeterminado e dependentes de assistência humanitária aliado ao crescente número de crises humanitárias, que reforça cada vez mais a necessidade de estudar estas novas estruturas a que designo território Indefinidos, territórios esses que se comportam como “cidades invisíveis“ insustentáveis.

A Arquitectura pode e deve contribuir para apoiar a prática da ação humanitária, explorando estes territórios indefinidos, como um laboratório privilegiado para (re)pensar novas formas de habitar, potenciando a sua autonomia e desenvolvimento sustentável, a médio e longo prazos.

Por Tiago Reis publicado in http://noticias.up.pt/

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