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América dos Anjos Pires (1917)

América dos Anjos Pires (1917)

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AMÉRICA dos Anjos Pires nasceu a 26 de Março de 1917, em Braga. É uma mulher centenária. Casou aos 24 anos com Adriano Mendonça e tem duas filhas e um filho. Foi professora primária e, até se aposentar, dedicou a vida ao ensino, mas sempre gostou de desenhar, pintar e costurar. “O meu pai era capitão do Exército e dizia que quem não tivesse dote tinha que estudar. Por isso colocou as filhas na escola. Eu gostava muito de ler romances e livros de aventuras, mas não estudava, bastava estar atenta aos professores. Era como um mata-borrão, absorvia tudo”.

No exame, para ser professora, pegou-se com o examinador: “Ele queria vingar-se de mim e reprovar-me, mas os outros não deixaram porque eu sabia. Fui classificada com 13, mas merecia pelo menos 15 valores. Havia muita ignorância, o Salazar demorou tempo de mais a cair da cadeira”.

O nome da nossa centenária é fruto de uma curiosa razão: “O meu pai chamava-se Américo. Como foi mobilizado para a primeira Grande Guerra, pensou que não voltaria e deu-me o nome dele no feminino, América. Afinal voltou e ainda fez mais três filhos”.

A primeira experiência no ensino foi em Paredes de Coura, recorda América dos Anjos: “Fui parar a uma escola na freguesia de Infesta e fiquei a dormir numa pensão. Às seis da manhã chamavam toda a gente para tomar o café. Como preferia dormir, deixava-me ficar na cama até à hora do pequeno-almoço. Ainda hoje gosto muito de dormir”.

Na escola, recorda: “Era eu que fazia a tinta. Misturava uns pós na água e metia nos tinteiros de porcelana das carteiras. As crianças molhavam a pena e escreviam. Quando borratava, havia um mata-borrão para chupar a tinta. Às vezes as crianças sujavam a roupa e eu tinha que ralhar para estarem mais atentas”.

No início da década de 60 foi destacada para a escola do Cruzeiro, em Aver-o-Mar. “Depois de ensinar em algumas escolas de Paredes de Coura, como Mozelos e Padornelo, vim leccionar para Aver-o-Mar. Tinha 40 meninas na mesma sala, com as quatro classes ao mesmo tempo. A umas ensinava a ler e a escrever, a outras a fazer cópias, redacções, ou a fazer contas e a resolver problemas. Também explicava a História e a Geografia de Portugal. Dei aulas na escola do Cruzeiro até me aposentar e tornei-me poveira”.

Em Aver-o-Mar, América dos Anjos sentiu a dor da miséria nas crianças que ensinava e tomou uma decisão de que se orgulha: “As alunas eram filhas de pescadores, seareiros e lavradores. As filhas do mar vinham sempre de estômago vazio. As da terra, algumas, levavam um lanche. Um dia uma menina queixou-se que lhe roubaram o pão. Doeu-me o coração e não consegui castigar quem o fez por ter fome. Com a ajuda de outras pessoas consegui que fosse servido diariamente um pequeno-almoço, de leite e pão, para as meninas mais necessitadas. Com fome ninguém aprende nada. Gostava muito das minhas alunas, algumas até me chamavam mãe”.

Leia a notícia na íntegra na edição impressa da A VOZ DA PÓVOA.

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