Paulo Abrunhosa (1958-2001)
Por que vive o dióspiro / exilado na diáspora? / Será ele inferior aos seus pares? / Ou serão, apenas, os ares / da terra de onde vem / que não lhe fazem bem?
Rui Reininho (1955)
Quando um barco tem pés para nadar / as ondas só vêm chatear / Lá do fundo do mar imundo imenso sais / Oh! Neptuno e as tuas sereias sensuais / e vendes o cais
Artur Jorge (1946-2024)
De / folhas / estateladas // a / árvore / - corpo / só - // de / pé / junto aos despojos
Teresa Guedes (1957-2007)
O que é que a tela branca / deseja na noite negra? / Que a amanhã seja / de chuva torrencial / para a inundar com o arco-íris.
João Saraiva (1866-1948)
Há corações felizes / Que rápido se esquecem! / Esses não envelhecem... / São os ingratos — dizes.
Jorge Sousa Braga (1957)
Quem atravessa o passadiço / vindo do mar dificilmente se / apercebe entre o estorno / o cardo e as perpétuas
Carlos Tê (1955)
Já não há mais o vagar / de quando se comia sentado / e devagar se caminhava / até chegar a qualquer lado
Daniel Maia-Pinto Rodrigues (1960)
Sozinho em casa, com a tarde a anoitecer / entram-me na ensonada, enfermiça audição / os desvairados sons da cidade - / sirenes diversas em tumultos distantes.
Pedro Homem de Mello (1904-1984)
Quando são mansos, parecem lírios. / Parecem rosas quando são bravos. / A igreja é bosque, cheio de círios, / Gótica igreja, cheia de cravos.
Pedro Alvim (1935-1997)
Sete homens foram presos / quando pela noite / os cabelos puxavam / a uma rapariga.
Eugénio de Andrade (1923-2005)
É Natal, nunca estive tão só. / Nem sequer neva como nos versos / do Pessoa ou nos bosques / da Nova Inglaterra.